Moda, Pense  •  07 nov 2016

Feminista, sim: Igualdade, empatia e respeito

Conforme falei pra vocês nesse post aqui, tenho cada vez mais vontade de compartilhar o espaço do Fashionismo e chamar gente incrível pra falar sobre temas específicos e, nesse caso, um muito importante: o feminismo. A primeira convidada especial é minha amiga e fala sobre o tema de maneira precisa e agregadora.  A Gabriela Ganem é blogueira, consultora de imagem e feminista, sim!

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Na infância era muito feminista. Não sabia, mas era. Enxergava todas as injustiças e as classificava assim mesmo: justo x injusto. Tudo bem preto ou branco, como costuma ser na infância. Aos poucos fui aprendendo que o injusto era a norma. “Menina não fala palavrão” (escuto esta até hoje). “Menina senta de perna fechada” (vai que alguém pensa que é um convite?). “Você só pode entrar na escolinha de futebol se cortar todo o cabelo” (a escolinha disfarçava bem seus métodos)Inconformada, me conformei, como sempre acontece.

Na adolescência a conformidade se tornou pró-atividade. Fico constrangida de lembrar de coisas que dizia e acreditava. “Mulher tem que se dar o respeito”. “Isso é coisa de piriguete”. “Com essa roupa?”. Era julgamento machista a torto e à direita. Me tornei um eco do que sempre ouvia. Esqueça a justiça. O duplo parâmetro era a lei – e eu uma obediente praticante. A ironia é que, se você me perguntasse naquela época, eu diria que era feminista.

Foi só depois de adulta que redescobri o feminismo. Não aquela crença equivocada de que para ser feminista bastava não ser dona de casa (será que foi daí que surgiu meu pavor de lavar a louça? rs). Conheci o feminismo como eu acredito que ele é: igualdade, empatia e respeito. Talvez até equidade. Foi como tirar uma venda. Até então, eu não via todas as crueldades que estavam ao meu redor. Coisas que estão muito além das pequenas injustiças que eu mesma sofria… Doeu, deu raiva, tristeza. De repente comecei a enxergar a dor do outro – a tal empatia. E como tem dor nesse mundo.

A verdade é que o feminismo arruinou minha vida. A vida como eu conhecia. Onde de um pedestal eu julgava as demais mulheres apenas por serem livres, entre outras coisas ridículas. Onde eu vivia completamente alheia ao que acontecia com mulheres fora do meu círculo por conta da desigualdade de gêneros. O feminismo é apenas uma porta de entrada. Racismo, homofobia, xenofobia, machismo. Dali para frente comecei a perceber todas as injustiças – o que inclui o meu próprio privilégio. E é um caminho sinuoso, cheio de buracos, em ladeira e sem volta. Mudou minha visão de mundo, um mundo que precisava mudar muito mais do que eu concebia.

O feminismo é uma ideia difícil de se vender. Começando pela nomenclatura, que já causa rejeição na largada. Não é à toa que volta e meia aparece um desinformado dizendo que é “humanista” [insira um revirar de olhos debochado aqui]. Apesar da assimetria que a palavra pode sugerir, é um sinônimo de igualdade. Igualdade de direitos e deveres – ou até a tal equidade. E isso não quer dizer que todo mundo agora vai ter bigode e axila peluda (cá entre nós, pessoalmente, isto é algo que eu aboliria em qualquer gênero, rs). É direito de escolher. Quem quiser ser dona de casa, será. Quem quiser ser cabeluda, será também. Simples assim. E não se trata apenas de questões domésticas ou estéticas. É subverter a maneira como a nossa cultura atual sujeita mulheres a todo tipo de restrição, injustiça e até violência.

De mulher para mulher, minha meta pessoal é aprender a enxergar a próxima não como uma rival apenas por ser fêmea, mas como uma semelhante. Missão difícil para quem nasceu entranhada num ambiente que promove o inverso. É entender suas dificuldades, tentar ajudar e, se necessário, proteger. Me colocar no lugar dela. Me policiar contra pensamentos machistas que eu mesma ainda tenho por puro reflexo. Na prática, parei brigar sobre isso.

O que eu faço é tentar contribuir na prática para que as mulheres à minha volta se libertem das amarras da cultura vigente e que isso passe adiante. Esta cultura que gera tanta desigualdade de oportunidades, de remuneração, que condena, que exige, que causa assédio, estupros, assassinatos… Ainda que ela seja machista convicta. Mesmo que nós tenhamos versões diferentes do que é ser feminista. Afinal, feminismo não tem cartilha. É algo que pertence a todas nós.

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Obrigada, Gabi! Eu fiquei super feliz com sua participação, espero que tenham gostado e se identificado!

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21 comentários em "Feminista, sim: Igualdade, empatia e respeito"
  1. Luanne
    07 nov 2016 // 15h02

    Parabéns ! Adorei o texto,

  2. tamy
    07 nov 2016 // 15h18

    gostei mto do texto :)

  3. chris
    07 nov 2016 // 15h22

    Quando a gente acha que não dá pra amar mais o Fashionismo e a The, a gente acha mais um motivo pra amar :heartpulse:
    Pq não bastava falar de beleza, celebridades, moda, consumo, ainda abre espaço pra textão e posicionamento
    Amei o texto da Gabi

  4. Barbara
    07 nov 2016 // 15h36

    Gabi SEMPRE maravilhosa and inspiradora!
    Parabéns pelo texto e estamos juntas! :facepunch: :collision:

  5. julha
    07 nov 2016 // 15h50

    texto MARA! amei <3

  6. Juliana
    07 nov 2016 // 15h53

    Gabi super inspiradora!
    Que texto!
    Que reflexão!
    Só amor!

  7. Marielly Andrade
    07 nov 2016 // 16h38

    Feliz por saber que o fashionismo nos influencia mas que o #melhorgrupo também influencia o fashionismo. Foi através dele que pude aprender mais sobre o feminismo e gostei muito como o tema foi abordado no texto. Parabéns The!

  8. Melissa Secchin
    07 nov 2016 // 16h43

    Amei o texto, super me identifiquei!

  9. Ana Paula
    07 nov 2016 // 17h44

    Melhor grupo abriu meus olhos e eu sou muito grata por isso, agora exercito essa desconstrução diariamente, não é fácil, mas a evolução só acontece assim. Ótimo texto.

  10. Luiza
    07 nov 2016 // 18h34

    Showwww! Gabi falou e disse :wink:

  11. Carol Presotti
    07 nov 2016 // 18h42

    Amei o texto! Temos que debater esse assunto cada vez mais!

  12. May
    07 nov 2016 // 18h58

    Estamos juntas, sister!! :heart:

  13. Vitória Gonçalves
    07 nov 2016 // 21h06

    que post! <3 amo quando mulheres maravilhosas, poderosíssimas e incríveis como a Gabi falam sobre o feminismo de forma tão sincera, simples e sem deixar de lado as dificuldades, tabus e problemas, mas sempre lembrando o quão linda é a vida de pessoas que se ajudam!

  14. Roberta
    07 nov 2016 // 21h38

    Ameiiiiiiiiiiii! É exatamente isso!

  15. mica
    08 nov 2016 // 09h32

    Adoreiii o texto!

  16. Sílvia Elaine Da Silva
    08 nov 2016 // 11h33

    Parabéns, The! Adorei!

  17. Andréia
    08 nov 2016 // 12h14

    Amei o post, maravilhosa a Gabi!

  18. Michelle
    08 nov 2016 // 15h15

    Maravilhoso, me vi representada no texto inteiro. Desde sempre ter sentido isso enquanto crescia até o momento de descobrir que existe um nome para isso e é feminismo! Principalmente por ter aprendido tanto no melhor grupo, muito bom trazer o tema pro blog para que mais pessoas tenham acesso!

  19. Martha
    11 nov 2016 // 16h04

    Amo ler os textos da Gabi! Assim como ela, eu também era cega quando mais nova, porque foi daquele jeito que me ensinaram. Quando pude finalmente abrir meus olhos, doeu muito e ainda dói. Ainda mais por saber que tem muita gente por aí, gente querida, amigos, que pensam de forma machista (entre outras) e como é difícil explicar pra essas pessoas… Mas vamos continuar lutando! :heart:

  20. Cássia Schittino
    12 nov 2016 // 12h10

    Caraca Thereza!
    Fico muito muito feliz em empolgada em ver esse assunto ser abordado aqui no Fashionismo.
    Seu blog é um dos poucos que acesso com frequência e acho que você só está somando levantando a bandeira do feminismo! :facepunch: :purple_heart:
    Juntas somos mais fortes! Menos julgamentos e mais amor…
    beijo! :kiss:

  21. Mônica
    14 nov 2016 // 11h47

    AMO a Gabi!
    AMEI esse espaço novo no blog!
    The ARRASANDO, como sempre!