Vinho  •  27 abr 2017

A evolução do vinho

Já aconteceu com algum de vocês de abrir um vinho e a primeira impressão ao cheirar ou provar não ser tão agradável? Tipo, o vinho parece meio duro, áspero, alcoólico demais ou simplesmente sem aroma ou sabor, só que após um tempo ele simplesmente muda? Isso é muito comum, e posso dizer que já “quebrei a cara” várias vezes quando comecei nesse  mundo.

Antigamente, eu abria a garrafa e já despejava na taça pra tomar, assim como a maioria das pessoas, só que eu fui percebendo que alguns vinhos se comportavam diferente com o passar das horas. Lembro como se fosse ontem de um vinho sul africano super bem avaliado que eu comprei, mas que no primeiro gole veio a decepção. O aroma era quase imperceptível e na boca o gosto só lembrava madeira, daquele tipo que você tira farpa da língua de tanta aspereza.

Fiquei desapontado comigo mesmo, imaginando que meu paladar não era pra vinho. “Empurrei” a garrafa quase toda goela abaixo e deixei o restinho pra, quem sabe, usar pra cozinhar mais tarde. Eis que de noite, peguei a garrafa (acho que pra fazer molho ferrugem), e pra minha surpresa, veio um aroma delicioso na minha cara! Curioso, coloquei na taça pra comprovar, e quase como mágica, o vinho estava maravilhoso, cheio de aromas de chocolate, baunilha e geléia de frutas vermelhas. Fiquei feliz, mas ao mesmo tempo chateado por não ter tido essa impressão mais cedo.

Isso acontece pelo simples fato de que vinho é uma bebida viva, com vários elementos que interagem e evoluem. Muitos vinhos precisam “respirar” para liberar seus aromas com mais intensidade, ou quem sabe suavizar seu sabor e ficar mais macios. Vinhos jovens, envelhecidos em madeira, complexos ou estruturados precisam de mais tempo em contato com o ar para oxigenar e mostrar toda sua exuberância.

Vinhos com teor alcoólico mais alto (acima de 14%) também vão se beneficiar com essa oxigenação para evaporar um pouco do álcool. Geralmente os aromas mais fechados, vão ficando mais francos e as características frutadas aparecem mais, os sabores amadeirados dão lugar à baunilha, chocolate, café e os taninos, que antes “amarravam” a boca, podem dar uma amansada e ficar mais redondos e doces.

Mas como eu faço pra oxigenar o vinho? É só deixar a garrafa aberta por um tempo antes de tomar. Tem gente que faz uso do decanter, que é aquela jarra de vidro ou cristal, que serve para aumentar a superfície de contato da bebida com o ar para ter uma aeração maior. É válido, mas quem não tem, não precisa se preocupar. Se abrir a garrafa uma horinha antes, você vai se surpreender com a diferença. Faça um teste, tome um gole assim que abrir a garrafa, e veja como o vinho se transforma depois de respirar. Já aconteceu de eu abrir um vinho bem complexo de manhã, para tomar só no jantar. Claro que não é todo vinho que precisa disso, porém posso assegurar que essa bebida não foi feita para os apressados. Deixar o vinho oxigenar é a maneira mais fácil de aproveitá-lo integralmente no seu ápice.

Depois dessa explicação, não poderiam faltar dicas de tintos que ficam muito mais atraentes após abertos por um tempo.

Clos de Los Siete 2013: Esse delicioso argentino com 14,5% de álcool, é um corte de Malbec, Merlot, Cabernet Sauvignon, Syrah e Petit Verdot. Já é bom assim que aberto, mas se esperar pelo menos uma hora, verá como os aromas evoluem para ameixas, geléia de amora e essência de baunilha. Tem bom corpo e com o tempo fica ainda mais macio, R$99.

Terra d’Uro Finca La Rana 2012: Belo espanhol da região do Toro, que com certeza cresce e aparece com uma boa respirada. Tem aromas complexos como de couro e defumado que evoluem bem em contato com o ar, trazendo notas de frutas negras maduras, especiarias e ervas finas. Na boca, os sabores de madeira, depois de um tempo ficam mais elegantes e os 14.5% de teor alcoólico nem se fazem perceber, R$70.

Quinta da Fronteira Reserva DOC 2012: Português divino da região do Douro. No auge dos seus 5 anos de idade, está no momento perfeito para ser degustado. Com 18 meses de envelhecimento em carvalho, esse tinto precisa oxigenar para suavizar os aromas de madeira e mostrar sua exuberância com belas notas florais, de cereja preta e uma pontinha de especiaria como açafrão. Vinho de ótima estrutura e complexidade, que se ficar umas duas horas aberto, vai deixar amaciar seus taninos e aumentar o frescor e sedosidade, R$146.

Espero que essa dica básica de fazer o vinho respirar possa ajudar na hora de degustarem, pois pra mim, no início, fez toda diferença. Se tiverem alguma dúvida, é só deixar um comentário.

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6 comentários em "A evolução do vinho"
  1. Amara
    27 abr 2017 // 16h46

    É verdade.
    Ontem não pude deixar o vinho respirar e só senti álcool e madeira.
    Um tempo depois já ficou mais agradável.

    • Rodrigo
      27 abr 2017 // 17h47

      Oi, Amara.
      Isso já aconteceu algumas vezes comigo, por esse motivo que é bom deixar o vinho dar uma respirada antes de degustar. Depois ele dá uma amaciada.
      Abs!

  2. 27 abr 2017 // 17h49

    Geralmente eu abro o vinho assim que chego em casa. Vou anotar essa dica . Na minha inocencia, iria estregar o vinho..rs

    • Rodrigo
      27 abr 2017 // 18h32

      Oi, Alice.
      Vc pode abrir o vinho assim que chegar em casa, mas é bom deixar aberto por pelo menos 1 hora antes de começar a beber.
      Abs!

  3. Gabrielle
    28 abr 2017 // 08h59

    Parabéns pelas postagens sobre vinho! É o que mais gosto no blog (e do Decorismo)!!!! Também já passei por essa situação, já cheguei a colocar um vinho fora por não saber tomar… Obrigada pelas dicas!

    • Rodrigo
      28 abr 2017 // 14h22

      Oi, Gabrielle, obrigado pelo carinho.
      Isso é bem comum mesmo, muita gente acha que o vinho está ruim assim que abre, por isso que é bom deixar um tempinho aberto antes.
      Abs!