Compras, Moda, Pense  •  14 set 2015

O GÊNIO DA ZARA, O LIVRO QUE FALA DA HISTÓRIA DA MARCA

Depois desse post aqui, que comentei sobre o interesse e aproximação da Anna Wintour com a Zara, decidi que precisava terminar de ler o livro que narra um pouco da história da marca e do seu criador, Amancio Ortega. Comprei fazia tanto tempo que finalmente consegui terminar e, como vocês pediram, trouxe algumas observações pra cá!

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Já fiz um post que contava um pouco da história que cerca a gigante da fast fashion, mas com “O Gênio da Zara”, pude entender um pouco além. É um livro que desde já recomendo e que sua autora, Covadonga O’Shea, apesar de evidentemente endeusar a marca, soube compartilhar bem os fatos que transformaram a Zara na maior empresa de moda do mundo e Amancio, no segundo homem mais rico da face da terra.

Antes de mais nada, nos dias de hoje estamos mais conscientes e atentos no que tange a questão Marcas x trabalho escravo, achei até que o livro falaria mais sobre isso, mas não. O foco é no lado empreendedor de Amancio e no surgimento do ideal ‘fast fashion’. Ela até menciona sutilmente o assunto, contando que eles negam veementemente as acusações e mostrando o lado humano da marca (sim, ela relatou diversos fatos). Apesar de ser difícil dissociar essa questão, como vocês pediram, compartilharei por aqui um pouco da visão empreendedora da marca.

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“Não coloque apenas as partes boas ou diga que construí a companhia toda sozinho. Existem 80.000 funcionário”. O livro (publicado em 2009) basicamente começa com esse pedido do Amancio, que não foi lá muito bem atendido, mas consigo entender o fascínio da autora pela história de um homem que começou do nada e hoje construiu um império.

“Percepção e interpretação ligeira das tendências da moda e dos gostos do consumidor” Em uma frase, a autora traça o principal perfil da marca e mostra que o termo ‘fast fashion’ foi o grande divisor da moda atual. Isso, hoje em dia, pode ser banal, mas até algumas décadas atrás, onde as coleções eram bem definidas, se tornou um diferencial que ele viu primeiro e investiu forte nisso.

#Zarafacts Renovação constante do estoque, 40% é trocado toda semana.

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Um dos casos mais interessantes do livro: Logo após o 11 de setembro, enquanto todas as lojas de Manhattan apresentavam vitrines alegres e coloridas, o que a Zara fez? Sentiu que seus clientes queriam usar roupas mais sóbrias, tons escuros e discretos, logo, em questão de dias, era a única loja da cidade que se adaptou ao clima vigente pós-tragédia e também a única que não enfrentou crise nos meses seguintes.

Fale com o gerente: Esse fato mostra o quão as lojas estão ligadas com a sede e antenadas com o que o cliente quer e o que a marca pode oferecer. Cada loja tem seu buyer, que nada mais é que o próprio funcionário que vivencia o dia a dia, sabe o que o cliente quer e vê neles seu principal termômetro e não uma buyer remota que age no feeling, por lá é tudo na prática. Então para eles é importante ter feedback recorrente do estilo de cada cliente e cada loja. Aliás, nas lojas de Barcelona vi aquele aparelhinho ‘à la Renner’ pra medir o nível de satisfação do cliente.

#ZaraFacts A área de design precisa estar ao lado da área de marketing, no sentido físico, como também andando lado a lado para promover o produto da melhor forma.

Sobre o grande sonho e desafio da Zara,  “Alcançar nada menos que o melhor sistema logístico do mundo, uma fórmula que permitiria levar um produto até uma loja, independente de sua localização, em menos de duas semanas.”

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#QuotesofAmancio “A autossastifação é uma armadilha terrível quando se quer atingir qualquer coisa importante”.

Para a autora, a Zara se tornou um fenômeno social, que vai além do comércio e compra da roupa, mas se transformou parte do lifestyle da pessoa. Ela cita algo bem interessante “A moda envolve o luxo de nos olharmos no espelho e poder escolher o que quisermos ser, decidindo nossa própria imagem. Não é uma questão de o que queremos representar na vida, mas o que queremos ser naquele momento.” E finaliza “A fórmula não é aquela de ter muitas coisas, mas a de poder ser muitas coisas.”

A pedra filosofal da Zara: “O modelo têxtil foi concebido por meio de vários testes e sequências de erros e acertos. Sua flexibilidade permite fazer mudanças de última hora, exigidas por clientes, pois é possível criar uma coleção em 4 semanas ou, até mesmo, em 2, se essa for a demanda do mercado. É possível interromper por completo qualquer linha de produção, se não estiver vendendo, até mesmo tingir as coleções com novas cores e adaptar estilos em questão de dias.”

A meta da Zara é “criar um clima de escassez e oportunidade”, os clientes sabem que sempre encontrarão novos itens, mas também não os encontrarão por muito tempo, logo, se viu e gostou > comprou, simples assim.

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#Zarafacts Em 2009, os clientes espanhóis visitavam uma loja da Zara 17 vezes por ano em média, ao contrário das 3,5 visitas registradas a outras cadeias de moda.

Um trecho interessante do livro é o que a autora fala que Amancio compreendeu antes de todos o novo ponto de vista social da moda e a transição da mulher submissa de décadas passadas para a workaholic de hoje: “Nesse novo cenário, a moda deixou de ser uma forma de tirania governada pela terrível pergunta do ‘o que devo vestir’ e, embora fosse uma necessidade importante e significativa, as mulheres não podem gastar mais tanto tempo e dinheiro com isso.”.

E ele ainda segue uma filosofia bem simples e essencial, dita uma vez por Donna Karan em entrevista: “Para mim, o futuro da moda se voltartá ao próprio estilo, não aos termos de um estilista. É meu papel oferecer às mulheres liberdade e ferramentas básicas para que cada uma possa misturá-la à sua maneira.” Enquanto Donna faz isso para seu público mais específico, a Zara busca esse ideal de maneira mais democrática e muito eficiente.

#WordsofAmancio “Uma mulher não corre mais atrás da moda, agora é a moda que segue a mulher”.

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Sobre as pessoas ainda acharam que as roupas são de má qualidade: “O número de pessoas que pensam assim está diminuindo”. Existe até uma seção feminina, onde são utilizados tecidos italianos muito caros. Tais roupas nunca geram lucro, mas valorizam o prestígio da marca.

Sobre roupas iguais espalhadas mundo afora: Há uma preocupação forte quanto a isso. Eles evitam produzir um grande número de unidades com as mesmas características, em vez disso, lançam um grande número de modelos a cada ano (cerca de 20k), com os esforços concentrados na não repetição dos mesmos. Além disso, eles se preocupam que nenhuma loja seja igual à outra, justamente pelo fato de cada loja ser gerida como se fossem boutiques, dando assim uma sensação de exclusividade. Os gerentes tem liberdade de fazer pedidos de acordo com o perfil de sua clientela, estando diariamente ligados à sede. Eles tem uma meta que, em cada ponto de venda, há uma renovação constante de estoques e o que fica parado circula para outras lojas.

#ZaraFacts Mais de 80% dos cargos na Inditex são ocupados por mulheres.

Sobre o atendimento ao público: Confesso que outro dia tive uma experiência bizarra, fui ao setor masculino e pedi ajuda para achar e indicar uma jaqueta de couro preta (pro Rodrigo), estava com pressa e o vendedor basicamente falou tipo “tem jaquetas de couro espalhadas por toda a loja.” foi quase um “se vira miga”, mas na realidade é que lááá na sede, Sr. Ortega  tem “os 6 mínimos” pontos que devem ser observados no tratamento ao cliente (viu, moço que me atendeu!): 1. Sempre tenha uma expressão amável; 2. Sorria na região do caixa; 3. Tenha uma caneta em mãos; 4. O gerente é a pessoa que mais deverá atender aos clientes; 5. Os provadores são uma importante ala de vendas; 6. Qualquer lugar da loja: paciência.

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#ZaraFacts De cada 10 pessoas que entram numa loja, 3 farão uma compra.

A fórmula para uma boa gerência: Decisões devem ser tomadas com base na lógica;  Seja objetivo com pessoas e sempre procure se colocar no lugar delas; Gerenciar não é um título, significa ensinar, mas pelo exemplo e auxílio; Se quiser julgar algo de forma negativa, ofereça uma alternativa plausível;  Sempre use o plural quando estiver falando de trabalho; Ninguém é maior que a própria empresa.

Durante todo o livro notei que dos mais diversos funcionários entrevistados, todos pareciam demostrar gratidão ao Amancio, ressaltando sua generosidade e citando-o como um cara simples e genuíno. Quando a Inditex abriu para a bolsa, ele deu ações de acordo com o tempo de empresa e não com o cargo em questão. Repito que ainda há questões sombrias que acercam a marca e o livro acaba se tornando bastante parcial, mas esses são fatos que também valem ser compartilhados.

#WordsofAmancio: “Não quero que haja nada em nossas lojas que lembre luxo, pois não harmoniza com nossa essência. Nosso foco é a mulher real, o público real, não sonhos”

Sobre cópias de roupas, a responsável pela linha Woman da marca, Beatriz Padín, é categórica e afirma que não há cópia, eles apenas se inspiram naquilo que veem, muito mais nas ruas do que em desfiles.

 

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Relacionamento com grandes estilistas: Pra quem acha que grife de alta costura viram os olhos para Zara, que nada, muitos deles recorreram a Amancio para entender o tal modelo de integração vertical e adaptar à sua realidade. Ele cita seu relacionamento com Giorgio Armani, que pessoalmente ligou para ele para conhecer mais sobre a fábrica e modelo de negócio, afinal, segundo Amancio, não basta ser criativo, tem que ter um tino empresarial.

#QuoteofAmancio “Se é verdade que fiz tanta fortuna, isso porque ganhar dinheiro nunca foi minha meta. Alguém interessado apenas em ganhar dinheiro não é um verdadeiro homem de negócio”.

No fim, Ortega define o que é a Zara para ele, “Pra mim, significa serenidade, não é um espetáculo. É uma marca que surgiu para ver as mulheres do mundo todo bem vestidas, não se mostrando. É um estilo democrático, capaz de se encaixar em mulheres de qualquer canto do mundo, onde a Zara está presente”. E atualmente isso ocorre em mais de 2000 lojas em 88 países.

Sobre o futuro do Grupo Inditex, nas palavras de Amancio, “Tudo está em seu devido lugar. Só o que temos a fazer é não estragar tudo”. Ele acrescenta, que o setor no qual deve se ter mais dedicação e esforço é na área de Expansão, pois é ali que reside o futuro e que deve ser combinado com a consolidação do que já foi construído.

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Essas foram pinceladas de um livro bastante interessante e instigante de ler. Sem dúvidas, a Zara está presente no cotidiano – e armário – de muitas e saber um pouco dessa visão é sempre legal de conhecer. É uma boa sugestão para quem trabalha ou estuda na área ou simplesmente pra quem tem curiosidade de saber da origem e até planos futuros de uma marca desse porte. Espero que tenham gostado do meu resumão!

 

 

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13 comentários em "O GÊNIO DA ZARA, O LIVRO QUE FALA DA HISTÓRIA DA MARCA"
  1. Erika
    14 set 2015 // 09h05

    Por isso que não deixo nunca de passar por aqui: sempre com conteúdo interessante. Parabéns, Thereza! Melhor blog com toda certeza!

  2. 14 set 2015 // 09h12

    Muito Obrigado por compartilhar essas reflexões sobre o livro.
    Ótima leitura na combinação “empreendedorismo + fashion + pessoas”
    Vou procurar o livro para ter a leitura completa.

  3. Rosangela
    14 set 2015 // 10h25

    Oi The, muuuito legal! sempre tive curiosidade em saber mais dessa marca.Até acho que deveriam falar mais dessa questão da escravidão humana, que com certeza muita gente não compra por isso … mas no geral, muito bom!

  4. 14 set 2015 // 11h06

    Realmente um gênio! Amo a Zara.
    http://senhoritadoslacos.blogspot.com.br/
    Bjos

  5. nana
    14 set 2015 // 11h56

    na parte do empreendedorismo é incrível mesmo, mas ex funcionários americanos estão processando a empresa por assédio moral e negros já relataram serem perseguidos nas lojas de nyc. uma tristeza.

    http://www.forbes.com/sites/clareoconnor/2015/06/22/fashion-chain-zara-profiles-black-shoppers-as-potential-thieves-workers-allege-in-report/

  6. gabriela moro
    14 set 2015 // 15h35

    não faço ideia como é possível administrar uma marca gigantesca como a ZARA.

  7. 14 set 2015 // 17h37

    Noooh que BACANA!!!
    Adorei a dica do livro.
    =*

    Mani Piñeiro

  8. Mica
    14 set 2015 // 18h30

    Penso em zara, penso em trabalho escravo. Parei de comprar na Zara também pelo atendimento, adorei um vestido branco que estava sujo e a funcionária mandou eu comprar e lavar. Mas o trabalho escravo não dá de engolir, infelizmente a industria da moda está cada vez mais atrelada a condições escravas de trabalho, parei de comprar roupas da china e de fastfashions pq a beleza de uma peça não apaga o sofrimento de meninas e meninos que trabalham. Prefiro comprar roupas produzidas no Brasil de pequenas fabricas e que não sejam sintéticas, cansei de peças sintéticas pq apesar da qualidade baixa e do desgaste da peça ela ainda vai durar depois que eu morrer.

  9. Ana Paula
    15 set 2015 // 11h36

    Amei esse post, você conseguiu fazer tipo um resumo de capa de livro, me deixou ainda mais
    curiosa pra ler o livro todo. Adoro seu trabalho, grande beijo!!! :kiss: :heartpulse: :ribbon:

  10. 15 set 2015 // 13h51

    Muito util esse site. Eu tambm gostei desse travesseiro que me ajudou nos sintomas de enxaqueca desse site, me ajudou at a relaxar.

  11. Olinda
    19 set 2015 // 20h17

    Adorei o artigo acerca da ZARA.

  12. 23 set 2015 // 16h53

    Muito bom esse website. Eu tambm gostei desse travesseiro que me ajudou nos sintomas de enxaqueca desse site, me ajudou at a desestressar.

  13. 01 ago 2016 // 22h11

    preciso de umas dicas pra fazer minha marca decolar